segunda-feira, 16 de março de 2009

ENTREVISTA COM FLÁVIO ASCÂNIO


Entrevista com Flávio Ascânio -

Tentando saber um pouco mais sobre a construção do parque Zilda Natel, procuramos um skatista que também é professor e morador da região e esteve diretamente envolvido no processo que resultou num belo espaço de lazer.
Em uma conversa informal com Flávio Ascânio tivemos algumas informações que nos fazem pensar como é importante o envolvimento do cidadão na realização de projetos públicos.
Quando a pista de skate ainda era um canteiro de obras, os skatistas que passavam em frente perceberam que havia alguma coisa errada nos formatos e disposições das rampas e obstáculos.
Com medo que aquela obra resultasse em uma bela escultura em homenagem ao skate, mas não uma pista, ou seja, bonita, mas que não servisse ao propósito do esporte, procuraram a prefeitura e reivindicaram que na elaboração e execução do projeto houvesse participação de uma comissão formada por representantes de diferentes áreas ligadas ao esporte:
Imprensa especializada, órgãos oficiais representados pela Confederação Brasileira de Skate (CBSK) e atletas.
Flávio relata como todo o processo de discussão, negociação e tomada de decisão foi bastante democrático e visava um ambiente para todos.
Isto é: diferentes espaços; diferentes modalidades; diferentes níveis técnicos e regras a serem respeitadas, como o uso obrigatório de capacete e tênis.
O resultado final dói fruto de conversa, pesquisa de opinião, argumentação e voto.
Flávio conta que a atenção com a pista não foi à toa, primeiro porque, por ser um bairro de classe média, não acontece a preocupação de serviços gratuitos, pois se pressupõe que todos podem pagar para se divertir, o que, claro, não é verdade, então era importante pensar em um espaço realmente inclusivo.
Segundo porque o bairro do Sumaré e a Zona Oeste têm uma relação de longa duração com o skate.
Nos anos 70, com a primeira moda do esporte, eram nas ladeiras do bairro que rolavam as sessions.
De lá pra cá o esporte tomou outra proporção.
Outras modalidades e pistas surgiram e deixaram de ser usadas apenas as ladeiras.
Marcas de roupas e equipamentos nacionais foram criados, não se precisando mais importar todo o material.
A imprensa especializada conquistou força.
O skate começou a ser visto como esporte, com atletas profissionais tratados realmente como profissionais.
Os melhores skatistas no ranking mundial são brasileiros.
Mas este desenvolvimento não foi sempre retilíneo, uniforme e ascendente.
Sempre que ocorre um declínio, quer seja por crise mundial, por outra moda que fica mais em evidência ou por qualquer outro motivo, todo o mercado ligado ao esporte sofre e as pistas de skate fecham.
Aí as ladeiras e ruas, mais uma vez, voltam a ser a casa dos skatistas que usam tanto a geografia natural como a urbana.


Flávio leciona no curso de educação física da FMU e foi um dos idealizadores do projeto UNIPRAN, universidade de esportes de prancha, que capacita professores formados em educação física a dar aula de skate, surf e suas variações de água doce, areia e neve.

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